Crónicas Improváveis

Eram seis da tarde. Começava mais um fim de tarde de trabalho. Naquele dia, talvez por força do destino, na caixa seis. Para ela era apenas mais um dia de trabalho, e por acaso, na caixa seis.

Dali por uma hora a seleção entrava em campo para defrontar a seleção suíça. Portugal jogava os oitavos de final do mundial de futebol no Qatar.

Ela fazia o seu trabalho. Entre sorrisos e a gentileza habitual, passava os produtos e cumprimentava cada cliente.

Eles, no estádio, a quilómetros de distância, faziam a bola rolar pelo relvado do estádio.

Na caixa seis, tudo estava calmo. A fila seguia e cada cliente saia sem que dissesse uma palavra sobre o jogo.

Cada click à passagem de um produto pelo leitor, o relógio avançava e o coração de milhares de portugueses batia mais forte.

A rapariga da caixa seis observava. Procurava sem sucesso, uma resposta à sua questão no rosto de cada pessoa.

Quando aquele senhor de meia idade chegou à sua caixa e com um sorriso de satisfação lhe disse boa noite, ela questionou baixinho e timidamente "como está a seleção?".

Com receio da resposta fez a pergunta que ocupara a seu pensamento nos últimos quase noventa minutos.

Ele olhou para ela! Os olhos brilharam e no meio da azafama em que se encontrava para apressadamente arrumar as compras, respondeu: "menina, tantos como o número da sua caixa".

Numa única expressão, mas tomada pela surpresa da resposta desviou o olhar para o marcador da caixa como se quisesse confirmar o número.

E o amável senhor lá concluiu "ganhámos menina! Seis! Esta já está! Que venha o próximo"

Para eles o próximo jogo, para ela o próximo cliente!

Ah! E já agora! Hoje é dia seis.